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Heranças à Esquerda 41

Esquerdas Brasileiras 12: O PT 3 - A Articulação e a construção da pragmática política do PT


Falando esquematicamente, a Articulação pode ser vista como a situação política conformada pela pactuação entre os principais líderes sindicais e intelectuais de classe média que, embora formados no caldo cultural stalinista, perceberam a importância dos movimentos sociais e da prática sindicalista no Brasil redemocratizado e a necessidade de construir um partido de massas que fosse liberado do aspecto doutrinário da práxis marxista.
É com esse pensamento que a Articulação construiu o socialismo petista, algo inteiramente novo, no Brasil e no mundo, em relação aos modelos de partido de esquerda. Vejamos o que caracteriza esse modelo.
Em primeiro lugar, uma postura anticapitalista. É uma noção ambígua, genérica e sem maior desenvolvimento teórico, mas conforma algo central no pensamento petista. Na prática, a percepção do socialismo proposta pelo PT chega a ser frágil, de tão genérica. Por exemplo, quando o partido diz que é a favor de “uma sociedade sem explorados nem exploradores”, uma expressão presente desde seus primeiros documentos, está se referindo, exatamente, a quê¿ Não fica claro. Não é para ficar. É suficiente marcar essa posição genérica no terreno das lutas ideológicas para poder avançar no campo prático. Esse tipo de operação caracteriza o PT. Por um lado, é péssimo, porque há um excesso de posições vagas e de fraquezas intelectuais. Por outro, isso é fundamental para o fortalecimento do partido e para seu crescimento na sociedade brasileira.
Em segundo lugar, a proposta de um socialismo “democrático e popular”. O conceito é muito interessante, mas também não tem paralelo na história da esquerda, seja pelo lado da social-democracia, seja pelo lado do marxismo-leninismo, do stalinismo ou do tratskismo. Simplesmente não tem paralelo. Porém, também é algo pouquíssimo elaborado. Algo superficial.
Em terceiro lugar, a crítica elaborada em relação às práticas políticas populistas e eleitoreiras, a sujeição das campanhas à necessidade do caixa 2 e a manipulação das massas. De uma forma geral, a crítica à política feita pelos partidos tradicionais e pela esquerda reformista. Essa crítica tem conseqüências políticas práticas, e aqui vê-se uma elaboração teórico-prática inovadora e importante para o pensamento político brasileiro, apesar de, evidentemente, esses preceitos estarem sendo abandonados, pelo partido, diante da necessidade de fazer composições políticas.  Essa crítica, no entanto, como dizia, resulta em algumas questões inovadoras e importantes. A meu ver, as principais são as seguintes: a concepção da ação parlamentar como luta social, a superação da tradição esquerdista de ver o partido como uma aristocracia de quadros, a concepção de luta de massas como construção participante e coletiva. São três inovações que o PT trouxe para a política brasileira e que merecem ser consideradas como heranças à esquerda, tanto para o partido como para a sociedade brasileira em geral.
É através dessa pragmática política que o PT construiu sua base programática e sua estratégia política.
Em termos de base programática, havia, no começo três palavras de ordem: antiimperialismo, antimonopolismo e antilatifundiarismo. Em termos de concepção estratégica a base pragmática do partido era acumular forças e disputar a hegemonia social.
É interessante perceber, também, a dinâmica sempre generalista na concepção estratégica do partido. Por exemplo, no 5º Encontro Nacional, em 1987, o PT rejeitou qualquer possibilidade de aliança com a “burguesia” e afirmou a necessidade da “ruptura revolucionária”. Porém, quando definiu os aliados táticos e estratégicos para a construção desse projeto incluiu, dentre os primeiros, a frente democrática e popular, da qual participavam elementos fortemente vinculados à chamada “burguesia” brasileira, e, não obstante, afeitos às lutas do PT. Dentre seus aliados estratégicos, para constar, definiu a frente única classista.
Nos anos seguintes, sobretudo na construção do corpo de alianças e pactos sociais que possibilitarão o primeiro governo Lula, essa mesma pragmática política será obedecida. É preciso vê-la não como uma ruptura com teses e propostas, mas como uma dinâmica interna do partido, presente na própria essência da Articulação, desde seus primórdios.

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