Morreu Claude Chabrol, e lamento muito. Gostava demais de seus filmes, sempre exatos na irregularidade dos outros, que sabiam transpor para o cinema um espírito de “novela”, ou de “conto longo” como ninguém. Tb gostava de duas outras supercoisas de Chabrol: sua percepção sublime da “alma burguesa” e, bem, e sua figura pública, com seu olhar pseudo-cínico, a sobrancelha cataclítica e o humor insólito. Um espírito provocador.
Chabrol foi prolífico: mais de oitenta filmes. Muitas adaptações perfeitas da literatura francesa: Flaubert, Maupassant, entre-histórias de Balzac... Aliás, ele me pareceu, muitas vezes, um sucessor de Balzac, no que se refere à perspicácia na descrição dos modos e medos da burguesia. Só que sua leveza foi à maneira do século XX, com um humor sutil que não havia em Balzac.
Era do tipo cineasta-pintor, especificamente da escola dos pintores-descritores. As tintas que usava eram cáusticas. Devassava com elas os rituais e os ritos burgueses, ensinando-nos que o mundo da burguesia é feito por fetiches secretos. E aquela sua ironia, por todo lado, que nunca parava... que mal deixava que víssemos o filme em paz...
Outra coisa que me impressionava é aquilo tudo que ele conseguia extrair de seus atores. Acho que ninguém deve ter dirigido atores tão bem como Chabrol. Será que eles sabiam o que estavam fazendo e o que estava acontecendo? O caso Huppert é paradigmático, e eu mesmo vejo Chabrol por trás de Isabelle Huppert em qualquer filme que ela faça, mas esse é o exemplo total, que ancora muitos outros.
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