O livro de Therborn tem dois propósitos: situar a prática política e o pensamento de esquerda do início do século XXI no marco do século anterior e oferecer um panorama sistemático do pensamento de esquerda do hemisfério Norte, no começo deste século, comparando-o com o marxismo do precedente.
Therborn procura analisar o espaço global interpretando o adensamento de forças e debilidades dos diversos players – como Estados, empresas, lobbies e coletividades transnacionais, dentre outros – em três diferentes planos: socioeconômico, cultural e político.
O plano socioeconômico diz respeito às pré-condições para a orientação econômica e social da política: de que maneira os diversos autores transitam à esquerda ou à direita. No plano cultural, acrescentam-se, à análise, observações a respeito do impacto dos padrões, crenças e identidades sobre o processo político. Enfim, no plano geopolítico o debate é perpassado pelos parâmetros de poder que atuam entre e contra os Estados.
Esses três planos são colocados de maneira distinta, mas a todo momento Therborn lembra que essa distinção não implica que sejam planos distintos no processo social: no mundo concreto, eles são conjuntos, mas é importante, segundo a analítica do autor, não confundi-los. E é isso que torna sua análise tão estimulante: percebe-se como essa composição de planos ganha uma formação específica em cada contexto, conjuntura, cenário histórico. E em cada um dos atores aí presentes. Trata-se de uma analítica de minúncias, que nos ajuda a afastar o ranço generalista – e talvez positivista - do marxismo ortodoxo, permitindo que acompanhemos as contradições da economia e da geopolítica sem abrir mão do peculiar em favor de um todo, tantas vezes imponderável.
Trata-se, então de acompanhar as minúncias da Ação política desses vários atores.
Atores? Bom são eles os Estados, os mercados, as “formações sociais” – ou seja, processos dinâmicos, que possuem, em geral, uma “estrutura de classe”, mas, também, uma variedade de causas “sem classe”.
Sim, sim, há muito a dizer sobre isso, mas vamos com calma – é claro.
Mesmo porque Therborn acrescenta, a esses três atores, digamos, clássicos, dois novos tipos de atores, surgidos na história recente: as organizações interestatais transnacionais – como o FMI e a OMC – e as redes, movimentos e lobbies em favor de questões globais.
De qualquer forma, a analítica proposta por Therborn permite contrastar, de múltiplas maneiras, as relações estabelecidas entre esses atores. Aliás, é precisamente essa analítica que distancia a obra de Therborn do modelo de análise de índole positivista que proliferou em certa literatura marxista.
Um sintoma do pós-marxismo? Talvez. Mas... o que seria, exatamente, esse pós-marxismo? É no caminho que se descobre. O terceiro capítulo do livro contém um painel do pensamento de esquerda atual. A partir dele pode-se perceber a diferença entre os neo-marxismo, dos esquerdismos, os pós-marxismos, etc. Chegaremos lá. Antes disso é preciso compreender o processo geopolítico que leva a esses modelos teóricos.
Comentários