Uma das questões que Therborn coloca parece ser fundamental para compreender o papel das esquerdas na política contemporânea: A capacidade do Estado de perseguir os objetivos das políticas diminuiu realmente nas últimas décadas?
Para respondê-la, Therborn faz uma revisão dos modelos políticos e das experiências exitosas e fracassadas de Estados, do pós-guerra a nossos dias.
Dois, por exemplo, foram os Estados que deram certo: os do Bem-estar social e aqueles que desenvolveram um projeto de desenvolvimento voltado para o exterior. Dentre os primeiros, figuram os Estados da Europa ocidental do pós-guerra, com seu peculiar capitalismo, com seus sistemas de seguridade social e de distribuição de renda. Dentre os segundos, o Japão, a Coréia e alguns outros países do sul e do sudeste asiático, e mesmo a China, embora sob um modelo diferente dos anteriores e a partir de certo momento de sua história.
Esses dois modelos de Estado estabeleceram sistemas de proteção interna.
Quanto aos modelos de Estado que “deram errado” contam-se muitos: Em primeiro lugar, aqueles que se voltaram para o mercado interno. Sua tendência foi implodirem pelo caminho, com exceção feita à Coréia do Norte. Outras experiências semelhantes capitularam: China, Laos, Camboja... todos seguiram um novo caminho. Cuba? Bom, Cuba se tornou um estado-turismo, uma atividade que, atualmente, e vai sendo superada pela exportação de serviços e de know-how, em saúde e educação para a Venezuela.
Outro tipo de Estado que fracassou foi o dos Estados pós-coloniais africanos, com ambições nacional-socialistas. Fracassaram por incompetência administrativa mas, também, por falta de uma cultura política nacional adequada.
O terceiro modelo fracassado foi aquele seguido sul da Ásia. Teve boas condições, até, com elites administrativas qualificadas, uma burguesia significativa e uma cultura democrática, mas o resultado foi um sistema educacional excludente, baixo crescimento econômico e aumento da pobreza. A Índia, maior exemplo desse modelo, permanece o maior espaço de mal-estar do planeta, apesar dos recentes progressos e dos avanços tecnológicos, ainda insuficientes.
Na America Latina, a virada rumo à industrialização, nos anos 1950, teve resultados variados, positivos parcialmente no Brasil, mas frágeis em outros países. É outro modelo fracassado.
De qualquer forma, o fato é que, após a crise do petróleo, no começo dos anos 1970, abriu-se espaço para um recuo das esquerdas e um avanço, muito rancoroso, da direita. Esse recuo aconteceu porque os governos de esquerda, notadamente na Europa do bem-estar social, não conseguiram, de acordo com Therborn, responder satisfatoriamente ao impasse gerado pela crise de empregabilidade que se sucedeu à crise do petróleo.
Bom, também houve motivos localizados, de índole regional: o aniquilamento da esquerda árabe, por Israel, na guerra de 1967 e a substituição do populismo latino-americano pela ditaduras pró-EUA, por exemplo.
Tudo isso, operando em conjunto, produziu uma espécie de recuo moral das esquerdas e o conseqüente avanço do neo-liberalismo. E, nesse cenário, com causas próprias, o colapso do Estado soviético, com suas conseqüências – dentre as quais, como sabemos, a auto-proclamada “vitória”, pelos EUA, da guerra fria e, também como decorrência disso, o processo militar norte-americano, cínico como o sabemos, que hoje vamos acompanhando.
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